domingo, 6 de novembro de 2011

Fetiche e mercadoria, um pouco alem do capital.


Eles são muitos, são de todas as idades, andam pelo corredor se esbarrando e se desviando uns dos outros. São raros aqueles que olham nos rostos uns dos outros e é fácil percebe o impulso, o desejo, o fetiche no olhar, no andar rápido, a fixação nas portas abertas e as que se abrem a todo o momento. De longe eles parecem compradores numa freira, de perto são homens querendo bota pra fora toda excitação; todo prazer que lhes é censurado ou negado durante horas que trabalham; horas que estão em casa com suas esposas e horas que estão nas ruas com a moral vigente desta sociedade que inibe o tesão.

A cada porta um olhar fascinante, um corpo atraente com uma voz que arrepia: “e ai vamos gozar?”. Isso extrai do interior de cada um aquilo que lhe foi negado durante todo tempo que eles não estavam ali. “Gozar”, quem anda fazendo isso numa vida de pegar metrôs lotados, de ônibus onde todos ficam suados, exalando odores que causam repulsa de todos por todos? É inegável que fedemos após o trabalho, todos os trabalhadores braçais, bancários, senhores de ternos e blusa de manga cumprida que precisam se mostrar sóbrios e apresentáveis o dia inteiro. Quem goza? No trabalho todos somos expostos a cumpri metas, e alcançar objetivos que não são nossos e sim de uma pessoa jurídica qualquer, aprendemos lá que essas pessoa somos nos, e falamos “nossa empresa” mesmo sabendo que estamos sujeitos a ser substituído pelo primeiro que se mostra mais produtivo. Ai estudamos e estudamos. Lá na escola e nas universidades também não gozamos, pois precisamos apreender algo que seja valorizado ou ter um papel que nos credencie a exercer determinado serviço, lá buscamos uma colocação no trabalho que não gozamos e nos faz andar em metrôs onde todos fedem.

Ah, mas ali sim gozamos! Aquelas garotas com sorrisos maliciosos pronta a te dar prazer após o “quanto é o programa?”. Ah sim, aquilo é uma mercadoria. O gozo se tornou uma mercadoria ultra perecível, pois só duram alguns minutos. Andando me deparo com senhores vividos e me pergunto se eles não gozam em casa?. Lembro-me das brigas dos vizinhos, nas quais, o homem ao chegar do trabalho, a mulher lhe fala: “ você demorou vamos ao supermercado”. Quem diabos goza com cobrança e quem gozar no supermercado? É tanta marca de milho que você nem sabe por que escolhe entre elas. Nas geladeiras vemos as cervejas e logo vem a lembrança daquela tesuda do comercial, que vemos durante o jornal, que mal prestamos atenção porque durante ele, o filho estudante está falando mal de um presidente de um país que você nem ouviu o nome, porque no meio do jornal e do filho passa a filha ligando para a amiga na sala e tudo que se ouve é “aquele gostosinho? Mas, ele nem tem carro do ano”. É, em casa também não se goza, a não ser a filha com os garotões de carro do ano e o filho politizado com seus discursos intermináveis sobre o fascismo.

Naquele corredor de abre e fechar de portas também não se goza, mais se deseja. É cada bunda, é cada peito, espartilhos, algumas se vestindo de freiras, enfermeiras e de empregadas. É incrível como muitos homens gostam de gozar com isso, já não basta a fantasia da TV? Do carro novo que vende aventura, e quando se compra a realidade é a prestações que mal conseguimos pagar? Mais a frente uma porta parece se destacar parece irradiar luz daquela pele sedosa, daquela voz mansa e aconchegante: “ três posições e uma chupadinha, se você quiser um sarro gostoso e um programa mais demoradinho você paga um pouco a mais” a voz é tão doce que a ereção e inevitável e a única coisa que sai da voz é: “vamos”.

Ao fechar a porta, o mundo parece diminuído aquelas vozes, olhares e milhares de passos nos corredores não são escutados mais, não se lembra do supermercado nem dos filhos que gozam nem da mulher que reclama. Aquela pele sedosa te acaricia enquanto se despe, ela vai te envolvendo te beijando da boca ao pescoço dos peitos a cabeça do pau, já tremulo o gozo esta ali no corpo todo. O sexo frenético arrepiante, alucinante vai se estendendo e vou percebendo que a vida pode existir com gozo. Quando de repente é interrompido o ato: “ ei amor goza logo o tempo esta acabando”. Eu estava gozando, sentia-me gozando, mas me deparo com um esporro: “você não goza”. Gozar seria somente coloca a porra pra fora? Essa porra toda não passou disso, jogar a porra pra fora? por fim eu joguei ela pra fora e com isso toda porra de vida voltou pra minha consciência, paguei e a pele sedosa que neste momento nem me parecia mais sedosa, fedia, fedia como todos aqueles que fedem depois do trabalho.

Ass: Saul Amorim