segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Limbo

Hoje mesmo estava lendo uma série de artigos de blogs que tem por ai. Em sua maioria, adeptos do liberalismo discutindo pormenores da “liberdade” consagrada por eles. Então, um deles, por exemplo, mostrava que o sistema de produção baseado na livre concorrência e na livre iniciativa (veja bem, ele não usou a palavra capitalista) teria erros. Mas mesmo com esses erros, que segundo ele tratam-se de pormenores que afetam apenas a quem não trabalha, tal sistema de produção de riquezas é o melhor que existe.

Mesmo que “houvessem” tantos erros “assim como dizem os comunistas”, ainda sim seriam “perdoáveis”. O sistema baseado na livre iniciativa, seria segundo ele, pleno porque consagra o mínimo necessário de liberdade para que todo homem realize a plenitude de sua própria liberdade. O trabalhador não pode reclamar, afinal ele é livre, e qualquer liberdade maior que essa vai contra os princípios da boa manutenção da propriedade.

A rigor, um monte de lorota mal escrita. Mas achei interessante, porque se esse tipo de discurso liberal (que encontramos muitas vezes por ai) for colocado para contrastar com dados, denuncias e outros discursos, nota-se um vazio discursivo, ocupado pelos marginais, excluídos, pobres e todo tipo de gente que simplesmente não consegue “comprar o título de nobreza”.

Pode ser que um estudo mais profundo o descreva tal vazio de forma diferente. E para falar a verdade, não me surpreenderia se um estudo profundo notasse que tal "espaço" não existe. Até agora, ele é simplesmente o espaço discursivo que o capitalista-liberal tem de aceitar e o capitalista-rei reprime. É a exata diferença entre um “democrata liberal” e um “estatizante opressor”. A impressão que eu tenho, é que essa diferença de discurso existe para tornar o liberalismo apresentável. Uma alternativa "liberal" ao próprio capitalismo, como se ambas alternativas fossem, na verdade, representações da “democracia” e do “autoritarismo”.

Como esse espaço se configura? Ele configura-se a partir das liberdades mínimas conjugadas com as vozes dos corpos “marginalizados”. A manutenção das liberdades “fundamentais” em corpos engajados em protestos. Sindicalistas, feministas, anarquistas, comunistas, pobres e etc... Quando esses corpos produzem discursos que denunciam a sorte a que são deixados, os oradores das políticas “liberais” logo colocam-se de forma a exibir o quão “vagabundos” são esses “arruaceiros” ou o quão lindo é isso de direitos fundamentais e quão importante é fazer a manutenção desse sistema que tolera a existência resistida desses corpos. No capitalismo você é explorado, enquadrado, taxado, controlado, entre outras coisa. E esse espaço é justamente onde o liberal transforma a crítica a economia política em apologia ao “uniforme liberal da democracia”.

Esse é o limbo bizarro ao qual estão condenados os oradores “contra-capital”. Esse maravilhoso “espaço” que faz a agonia de ter de protestar parecer uma festa democrática. Onde a razão do protesto é “traduzido” num gozo político. Razão de protestar se equipara a razão de ser feliz. Espaço onde insatisfação só pode ser entendida como satisfação. É esse tipo de coisa que me faz concluir que não somos livres... Apenas fomos esquecidos.

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